BAILE PERFUMADO - FILME COMPLETO EM ALTÍSSIMA RESOLUÇÃO. Cangaçologia August, 2021. https://web.archive.org/web/20220307101725/https://www.youtube.com/watch?v=2FkxfMYpzk8
BAILE PERFUMADO - FILME COMPLETO EM ALTÍSSIMA RESOLUÇÃO. [link]Paper  abstract   bibtex   
Baile Perfumado (1996) é um longa-metragem com direção de Lírio Ferreira (1965) e Paulo Caldas (1964). Realizado com apoio do Governo do Estado de Pernambuco, da Eletrobrás e do Banco do Nordeste do Brasil e da Lei Rouanet. Com lançamento oficial em 1997, é um marco da chamada “retomada” do cinema brasileiro. No longa-metragem, alternam-se imagens de Super 8 e de vídeo, com uma estética que transita entre o cinema novo e os filmes de ação hollywoodianos. A direção musical é assinada por Paulo Rafael sob influência da cena musical manguebeat1, com a participação de Chico Science (1966-1997). Trabalham na pesquisa do filme o crítico e cineasta Fernando Spencer (1927-2014) e o historiador Frederico Pernambucano. A história é baseada em fatos verídicos: o encontro entre o mascate libanês Benjamin Abrahão (1890-1938) e Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (1898-1938), interpretados respectivamente por Duda Mamberti (1965) e Luis Carlos Vasconcelos (1954). Narrado pelo personagem de Abrahão em libanês, o filme mescla imagens reais capturadas pelo mascate, em preto e branco, e outras ficcionais, coloridas. Com isso, cria um cenário no qual se alternam as décadas de 1930 e de 1990, o interior nordestino e a capital Recife. A montagem constrói-se com focos entrecruzados. Por um lado, Abrahão decide documentar, em filmes e em fotos, Lampião e seu bando, com o objetivo de comercializar a história do cangaceiro. Por outro lado, apresenta os bailes organizados por Lampião - baile é palavra utilizada pelos cangaceiros para designar a guerra2. A narrativa desenvolve-se em cortes secos entre as cenas, exacerbação da violência e alguns momentos de nítida estilização. O tom documental é fruto da incorporação, no filme, dos registros fílmicos feitos por Abrahão e de seu real encontro com os cangaceiros. Embalado pela música pop do Recife, Baile Perfumado constrói uma colagem em que se alternam imagens com tomadas aéreas e ângulos não convencionais, nas quais se apresentam paisagens do sertão e closes dos personagens feitos de baixo para cima. Uma imagem de Lampião como figura proto-revolucionária cede lugar ao ícone pop, como observa o crítico Ismail Xavier (1947). O autor sublinha a interface entre o moderno, trazida pelos estilos de som, montagem e câmera, e a tradição enfatizada pelo tema do cangaço3. A figura pop de Lampião é marcante no longa-metragem. O cineasta Glauber Rocha (1939-1981), por exemplo, cria em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) a figura do bandido que se aproxima do bandido social, definição do historiador britânico Eric Hobsbawm (1917-2012). Um tipo de justiceiro, potencial agente histórico transformador, fazendo da violência algo próximo da ação revolucionária. Glauber atribui ao personagem Corisco certa vaidade, proveniente de sua sabedoria e disposição para a luta e do desejo por justiça social. Nessa perspectiva, um nexo entre revolta e justiça, vaidade e sacrifício, por meio da qual a violência associa-se a interesses particulares. Lampião de o Baile Perfumado é, também, dotado de vaidade, mas numa lógica distinta: sua vaidade revela-se nos produtos de consumo da vida burguesa, como uísque e, como o próprio nome do filme sugere, perfumes. Esses produtos são adquiridos de uma rede de consumo, na qual se articulam cangaceiros e fazendeiros, num jogo de alianças obscuras4. Do mesmo modo, explicitam-se as relações escusas às quais se refere Ismail Xavier. Estabelecem-se trocas entre a cidade e o sertão, que perde o ascetismo e insere-se no consumo. Há conchavos, envoltos em apostas em jogos de carta e regados a bebida importada. Nesse cenário, há um proprietário local, cuja atitude desagrada tanto a um coronel quanto à Lampião. Firma-se um negócio velado, por meio do qual Lampião sugere que resolverá a situação. Na sequência, os cangaceiros surgem em poses estáticas prontos para serem fotografados por Abraão. Logo, a câmera traz Lampião ao lado da companheira, Maria Bonita, que arruma seu cabelo. Lampião segura um frasco de perfume, que borrifa em Maria Bonita e em direção à câmera. Lampião, como os policiais ou os coronéis, são fatalidades nordestinas. Abrahão não é. Ele busca a aventura, ao mesmo tempo em que corre atrás do fascínio de Lampião. Ele busca o lucro (sonha em ver essas imagens de Lampião exibidas pelo mundo). Ele busca a vida, em última análise. Existe no "Baile Perfumado" uma mistura de euforia - que diz respeito ao triunfo de Abrahão - e depressão - que diz respeito ao destino dessas imagens, quase todas perdidas. Euforia e depressão que de certa forma duplicam a questão lançada pelos diretores: a modernidade que chega ao sertão (levada pelo cinema de Abrahão, pelos novos equipamentos da volante, pelos perfumes franceses de Lampião) é também o que apressa o fim do cangaço real e o transforma em mito, em história. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural.
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A história é baseada em fatos verídicos: o encontro entre o mascate libanês  Benjamin Abrahão (1890-1938) e Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (1898-1938), interpretados respectivamente por Duda Mamberti (1965) e Luis Carlos Vasconcelos (1954). Narrado pelo personagem de Abrahão em libanês, o filme mescla imagens reais capturadas pelo mascate, em preto e branco, e outras ficcionais, coloridas. Com isso, cria um cenário no qual se alternam as décadas de 1930 e de 1990, o interior nordestino e a capital Recife. A montagem constrói-se com focos entrecruzados. Por um lado, Abrahão decide documentar, em filmes e em fotos, Lampião e seu bando, com o objetivo de comercializar a história do cangaceiro. Por outro lado, apresenta os bailes organizados por Lampião - baile é palavra utilizada pelos cangaceiros para designar a guerra2. A narrativa desenvolve-se em cortes secos entre as cenas, exacerbação da violência e alguns momentos de nítida estilização. O tom documental é fruto da incorporação, no filme, dos registros fílmicos feitos por Abrahão e de seu real encontro com os cangaceiros.  

Embalado pela música pop do Recife, Baile Perfumado constrói uma colagem em que se alternam imagens com tomadas aéreas e ângulos não convencionais, nas quais se apresentam paisagens do sertão e closes dos personagens feitos de baixo para cima. Uma imagem de Lampião como figura proto-revolucionária cede lugar ao ícone pop, como observa o crítico Ismail Xavier (1947). O autor sublinha a interface entre o moderno, trazida pelos estilos de som, montagem e câmera, e a tradição enfatizada pelo tema do cangaço3. A figura pop de Lampião é marcante no longa-metragem. O cineasta Glauber Rocha (1939-1981), por exemplo, cria em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) a figura do bandido que se aproxima do bandido social, definição do historiador britânico Eric Hobsbawm (1917-2012). Um tipo de justiceiro, potencial agente histórico transformador, fazendo da violência algo próximo da ação revolucionária. Glauber atribui ao personagem Corisco certa vaidade, proveniente de sua sabedoria e disposição para a luta e do desejo por justiça social. Nessa perspectiva, um nexo entre revolta e justiça, vaidade e sacrifício, por meio da qual a violência associa-se a interesses particulares. 

Lampião de o Baile Perfumado é, também, dotado de vaidade, mas numa lógica distinta: sua vaidade revela-se nos produtos de consumo da vida burguesa, como uísque e, como o próprio nome do filme sugere, perfumes. Esses produtos são adquiridos de uma rede de consumo, na qual se articulam cangaceiros e fazendeiros, num jogo de alianças obscuras4. Do mesmo modo, explicitam-se as relações escusas às quais se refere Ismail Xavier. Estabelecem-se trocas entre a cidade e o sertão, que perde o ascetismo e insere-se no consumo. Há conchavos, envoltos em apostas em jogos de carta e regados a bebida importada. 

Nesse cenário, há um proprietário local, cuja atitude desagrada tanto a um coronel quanto à Lampião. Firma-se um negócio velado, por meio do qual Lampião sugere que resolverá a situação. Na sequência, os cangaceiros surgem em poses estáticas prontos para serem fotografados por Abraão. Logo, a câmera traz Lampião ao lado da companheira, Maria Bonita, que arruma seu cabelo. Lampião segura um frasco de perfume, que borrifa em Maria Bonita e em direção à câmera.

Lampião, como os policiais ou os coronéis, são fatalidades nordestinas. Abrahão não é. Ele busca a aventura, ao mesmo tempo em que corre atrás do fascínio de Lampião. Ele busca o lucro (sonha em ver essas imagens de Lampião exibidas pelo mundo). Ele busca a vida, em última análise. Existe no "Baile Perfumado" uma mistura de euforia - que diz respeito ao triunfo de Abrahão - e depressão - que diz respeito ao destino dessas imagens, quase todas perdidas. Euforia e depressão que de certa forma duplicam a questão lançada pelos diretores: a modernidade que chega ao sertão (levada pelo cinema de Abrahão, pelos novos equipamentos da volante, pelos perfumes franceses de Lampião) é também o que apressa o fim do cangaço real e o transforma em mito, em história. 

Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural.},
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