Patologias sociais, sofrimento e resistência : reconstrução da negatividade latente na teoria crítica de Axel Honneth. Teixeira, M. O. d. N. 2016.
Paper abstract bibtex Resumo: Esta tese reconstrói a obra de Axel Honneth desde os estudos preparatórios para a teoria da luta por reconhecimento até os desenvolvimentos mais recentes, vinculados à ideia de liberdade social. A partir da análise das insuficiências teóricas do modelo crítico do reconhecimento, examina-se a possibilidade de encontrar, na própria lógica interna da teoria honnethiana, elementos que contribuam para superá-las. Tendo como referência sua perspectiva acerca dos potenciais de resistência frente a experiências de injustiça vivenciadas pelos atores sociais como sofrimento, são identificadas e discutidas três fases no pensamento do autor. 1) Modelo crítico do reconhecimento: nas décadas de 1980 e 1990, Honneth recorre à ideia de interesse emancipatório, segundo a qual o bloqueio da autorrealização causa nos atores sociais concernidos algum tipo de mal-estar que, por sua vez, guarda potenciais motivacionais para a resistência à dominação e a luta pela libertação do sofrimento. A experiência de injustiça representa, assim, uma oportunidade para os atores sociais articularem de modo reflexivo as expectativas normativas que conformam o seu repertório moral. 2) Fase de transição: durante os anos 2000, apresenta-se nos escritos de Honneth um bloqueio sistemático na conexão motivacional entre sofrimento e resistência. Nesse contexto, apesar de a ideia de sofrimento permanecer central, seu potencial de impulsionar uma resistência ativa nos atores concernidos sai de cena como consequência de um diagnóstico de época mais sofisticado, que identifica patologias sociais justamente na erosão do aspecto motivacional da experiência de sofrimento. 3) Modelo crítico da liberdade social: a partir da década de 2010, a ausência na obra do autor de análises sobre a possibilidade de resistência à dominação social pode ser atribuída à adoção de um modelo teórico de tendência sistêmica. Com o foco não mais nas experiências de desrespeito nem nas patologias sociais, mas nas chamadas anomalias sociais ¿ entendidas como desequilíbrios funcionais na reprodução social ¿, Honneth deixa em segundo plano precisamente seu impulso teórico inicial: a busca por superar, no pensamento crítico, as abordagens funcionalistas que impediam que se revelasse, no âmbito da própria vida social, um potencial latente de resistência. Honneth abandona o vínculo fundamental, anteriormente defendido, entre desrespeito, sofrimento e disposição para a resistência. Tal ruptura não é fruto de um diagnóstico de tempo, como no caso das patologias sociais, mas de uma reorientação teórica em direção à perspectiva do observador, em detrimento da do participante, minando com isso o poder explicativo e normativo da ideia de interesse emancipatório. Todavia, uma noção ampliada de reconstrução normativa com foco na negatividade latente da realidade social (desenvolvida a partir da própria obra de Honneth, mas indo além de suas formulações mais recentes) pode assumir um caráter emancipatório ¿ não porque de algum modo desfaz o dano causado pelo sofrimento, mas antes porque contribui para o trabalho reflexivo, distorcido por fenômenos patológicos, de articulação social do sofrimento individualmente experienciado. É, assim, na interação concreta entre as perspectivas do observador e do participante, mediada pela colaboração entre filosofia, teoria social e pesquisas empíricas, que uma teoria crítica reconstrutiva pode fazer justiça às suas intenções práticas
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A experiência de injustiça representa, assim, uma oportunidade para os atores sociais articularem de modo reflexivo as expectativas normativas que conformam o seu repertório moral. 2) Fase de transição: durante os anos 2000, apresenta-se nos escritos de Honneth um bloqueio sistemático na conexão motivacional entre sofrimento e resistência. Nesse contexto, apesar de a ideia de sofrimento permanecer central, seu potencial de impulsionar uma resistência ativa nos atores concernidos sai de cena como consequência de um diagnóstico de época mais sofisticado, que identifica patologias sociais justamente na erosão do aspecto motivacional da experiência de sofrimento. 3) Modelo crítico da liberdade social: a partir da década de 2010, a ausência na obra do autor de análises sobre a possibilidade de resistência à dominação social pode ser atribuída à adoção de um modelo teórico de tendência sistêmica. 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